Era uma vez, numa região tão pobre e assolada pela fome que a terra parecia ter esquecido como ser generosa, um lenhador e sua esposa viviam com seus sete filhos numa pequena cabana à beira da floresta. Os tempos estavam tão difíceis que, certa noite, ouvindo o choro fraco de seus filhos com fome, o casal tomou a decisão mais angustiante de suas vidas. Acreditando não ter outra saída, decidiram levar as crianças para o coração da floresta e ali deixá-las.
— Talvez alguma alma bondosa as encontre — sussurrou a mãe, com o coração despedaçado. — Aqui, todos nós pereceremos.
O mais novo dos filhos era um menino chamado Polegar. Ele não era maior do que um polegar ao nascer, e por isso ganhara esse nome, mas o que lhe faltava em tamanho, sobrava em esperteza e coragem.
Naquela noite, enquanto fingia dormir, ele ouviu cada palavra dolorosa que seus pais trocavam. Sem se desesperar, Polegar levantou-se em silêncio, encheu os bolsos do casaco com pequenas pedrinhas brancas que brilhavam sob a luz da lua e voltou para a cama, traçando um plano em sua mente.
No dia seguinte, o lenhador, com o rosto marcado pela tristeza, levou os filhos para a floresta para “cortar lenha”. Polegar, esperto, foi soltando as pedrinhas brancas ao longo do caminho, marcando a trilha de volta para casa. Quando o pai os deixou sozinhos e a noite caiu, escura e cheia de sons desconhecidos, os irmãos começaram a chorar de medo.
— Não se preocupem — disse Polegar, com uma voz muito mais calma do que sentia. — Basta seguirmos o rastro de luz que eu deixei. A lua irá nos guiar de volta.
E assim foi. As pedrinhas brancas brilhavam como pequenas estrelas no chão, formando um caminho seguro que os levou direto de volta à porta de sua casa. A mãe, ao vê-los, chorou de alívio e alegria, abraçando todos com uma força que pensava ter perdido. O lenhador, arrependido, jurou nunca mais abandoná-los. Por um tempo, a felicidade reinou novamente na cabana.
A casa misteriosa
No entanto, a fome era um inimigo persistente. Quando a última migalha de pão foi consumida, a desespero voltou a pairar sobre a família. Os pais, vendo seus filhos definharem mais uma vez, tomaram novamente a terrível decisão. Desta vez, trancaram a porta do quarto das crianças para evitar que Polegar ouvisse, mas o pequeno herói, atento a tudo, percebeu a movimentação. Ele tentou sair para buscar suas pedrinhas, mas a porta estava trancada. Sem seu plano anterior, o coração bateu mais forte de medo.
Na manhã seguinte, a família partiu mais uma vez para a floresta. Desta vez, Polegar não tinha pedrinhas. Em vez disso, ele foi quebrando migalhas de um pedaço de pão duro que guardara no bolso, deixando um rastro pelo caminho. Mas sua esperteza foi em vão. Os pássaros da floresta, espertos e famintos, viram aquele banquete e, em poucos minutos, comeram cada migalha do caminho.
Quando se viram sozinhos novamente, os irmãos de Polegar olharam para ele, esperando por uma solução. Polegar olhou para o chão, para o céu e para os olhos assustados de seus irmãos. O rastro havia sumido.
— Vamos caminhar — ele disse, tentando transmitir uma confiança que não sentia. — Alguém deve morar por aqui.
Caminharam por horas, até que os pés doíam e a esperança começava a minguar. Foi então que, no meio da escuridão, avistaram uma luz tremeluzindo ao longe. Seguiram-na e encontraram uma casa. Bateram na porta, pedindo abrigo, sem saber que haviam chegado à casa de um Ogro, o mais terrível de toda a floresta.
A esposa do Ogro, uma mulher de coração mais brando, abriu a porta e ficou com pena das crianças magras e cansadas.
— Rápido, entrem! — ela sussurrou, puxando-os para dentro. — Meu marido é um Ogro e ele adora… bem, ele adora crianças. Mas não do jeito que vocês imaginam.
Mal havia escondido os sete irmãos debaixo de uma cama grande, o Ogro chegou em casa. Ele era gigantesco, com uma voz que fazia a casa tremer.
— Cheiro de criança fresca! — rugiu ele, farejando o ar. — Eu cheiro carne fresca!
Sua esposa tentou negar, mas o Ogro era persistente. Ele logo descobriu os sete irmãos, tremendo de medo debaixo da cama. Em vez de devorá-los na hora, o Ogro deu uma risada estrondosa.
— Sete! Que banquete! — exclamou. — Mas já é tarde. Podem dormir aqui, e amanhã à noite serão minha janta! Vamos, meninas! — ele chamou, e sete pequenas ogrinhas, tão assustadoras quanto o pai, entraram na sala para ver o “jantar”.
O Ogro, então, levou os sete irmãos para um quarto e trancou a porta. Cansados da longa caminhada e aterrorizados, os seis irmãos mais velhos caíram num sono agitado. Mas Polegar permaneceu acordado. Ele sabia que a esperteza era sua única arma.
A grande fuga
Enquanto todos dormiam, Polegar ouviu o Ogro e sua esposa conversando do lado de fora da porta.
— Estas são minhas botas de sete léguas — o Ogro dizia para a mulher, mostrando um par de botas enormes. — Com elas, posso cruzar montanhas e florestas em um único passo. Amanhã, usá-las-ei para caçar mais comida enquanto espero nosso banquete amadurecer de medo.
Ele tirou as botas e logo começou a roncar, um som tão alto quanto um trovão. Foi então que Polegar teve sua ideia mais audaciosa. Com a agilidade de um rato, ele se esgueirou pela fresta da porta (que não estava completamente trancada) e viu as botas mágicas brilhando no escuro. Com um esforço sobre-humano, arrastou-as, uma a uma, para dentro do quarto.
— Acordem! — sussurrou ele para seus irmãos. — É a nossa chance de escapar!
Os irmãos, assustados, ajudaram-no a calçar as botas mágicas nos pés de Polegar. Mal ele pensou em correr, e whoosh! — ele deu um passo e se viu do outro lado da floresta. Com a velocidade das botas, Polegar correu até a casa do rei de uma terra distante.
— Vossa Majestade — disse Polegar, curvando-se, ainda com as botas enormes nos pés. — Trago notícias urgentes. O exército de um país vizinho planeja atacar suas terras. Eu posso ajudar, com a velocidade destas botas, a levar suas ordens aos seus generais na fronteira em um piscar de olhos.
O rei, impressionado com aquele menino minúsculo e suas botas gigantes, aceitou a oferta. Polegar, ágil e rápido, levou mensagens vitais para todos os cantos do reino, permitindo que o exército do rei se preparasse e vencesse a batalha sem derramar uma gota de sangue.
Como recompensa, o rei encheu Polegar de ouro e riquezas. Sem perder tempo, Polegar calçou novamente as botas mágicas e, em dois passos, estava de volta à casa do Ogro. Ele resgatou seus irmãos, que ainda estavam trancados no quarto (o Ogro, sem suas botas, não pôde caçá-los), e juntos, em mais alguns passos mágicos, estavam de volta à sua cabana.
Ao chegarem em casa, não eram mais as crianças famintas e abandonadas que partira. Polegar despejou o ouro aos pés de seus pais.
— Nunca mais passaremos fome — anunciou, com um sorriso que iluminou seu rosto pequeno.
Os pais, entre lágrimas de remorso e de alegria, abraçaram todos os filhos, prometendo nunca mais duvidar do amor e da esperança. O lenhador e sua esposa aprenderam que a maior riqueza não estava na comida ou no ouro, mas na família unida. E Polegar, o menor de todos, provou que a coragem e a inteligência são as armas mais poderosas que alguém pode ter. A família, agora próspera e feliz, viveu para sempre lembrando a aventura do pequeno herói que, com esperteza e um coração valente, mudou o destino de todos.





