A menina que guardava estrelas

Era uma vez uma menina chamada Luna que vivia numa casinha no alto de uma colina, bem longe da cidade. Ela morava com sua vovó, que era muito carinhosa mas já estava ficando velhinha e cansada.

Luna tinha um dom muito especial: ela conseguia ver quando as estrelas do céu estavam tristes ou machucadas. Toda noite, ela subia no telhado de sua casa e conversava com elas, cantando canções de ninar para que pudessem dormir em paz.

A vovó sempre dizia que Luna tinha um coração de ouro, porque desde pequena ela cuidava de tudo e de todos ao seu redor: dos passarinhos feridos, das flores murchas do jardim, e até das estrelas lá no céu.

Mas um dia, algo muito estranho aconteceu. As estrelas começaram a desaparecer uma por uma. Primeiro foram as menorzinhas, depois as médias, até que sobraram apenas as maiores e mais brilhantes.

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Luna ficou muito preocupada e perguntou para sua vovó:

— Vovó, por que será que as estrelas estão sumindo?

A vovó balançou a cabeça, pensativa:

— Não sei, minha querida. Talvez elas estejam com medo de alguma coisa.

Naquela noite, Luna subiu no telhado como sempre fazia, mas o céu estava quase vazio. Apenas uma estrelinha muito pequenininha brilhava fracamente num cantinho.

— Estrelinha, o que está acontecendo? Para onde foram suas amigas? — perguntou Luna.

A estrelinha piscou tristemente e, com uma voz bem baixinha que só Luna conseguia ouvir, respondeu:

— Luna, minhas amigas todas estão se escondendo porque um dragão negro chegou ao nosso céu. Ele está comendo nossa luz e nos deixando sem brilho. Logo logo ele vai chegar aqui também, e eu vou sumir como as outras.

Luna sentiu seu coração apertar de tristeza. Ela não podia deixar que todas as estrelas desaparecessem!

A jornada pelo céu

Na noite seguinte, Luna teve uma ideia corajosa. Ela pegou uma corda bem comprida, amarrou numa ponta a estrela cadente que guardava numa caixinha especial (presente da vovó), e jogou a corda para o alto.

A estrela cadente voou pelo céu e se prendeu numa nuvem bem alta. Luna então escalou a corda como se fosse uma escada, subindo cada vez mais alto até chegar às nuvens.

Lá em cima, o céu era diferente do que ela imaginava. Havia caminhos feitos de poeira de estrelas e casinhas pequeninas onde as estrelas moravam. Mas tudo estava escuro e silencioso.

Luna caminhou pelos caminhos celestiais até encontrar um buraco enorme e negro no meio do céu. De dentro dele saíam ruídos estranhos e uma fumaça escura.

— Deve ser a casa do dragão negro — pensou Luna.

Ela se aproximou devagar e viu o dragão: ele era enorme, tinha escamas que pareciam buracos negros e estava devorando a luz das estrelas que tinha capturado. Ao seu redor, centenas de estrelinhas estavam presas em gaiolas, sem brilho e muito tristes.

Luna respirou fundo e gritou:

— Ei, dragão! Solte as estrelas agora mesmo!

O dragão virou sua cabeça gigantesca para ela:

— Uma menininha humana aqui no meu céu? Como você chegou até aqui?

— Isso não importa — respondeu Luna, tentando não demonstrar medo. — O importante é que você pare de roubar a luz das estrelas. Elas precisam brilhar para iluminar a noite e trazer esperança para as pessoas.

O dragão deu uma risada que fez o céu inteiro tremer:

— Eu como a luz delas porque estou com fome há milhares de anos. E não vou parar só porque uma criança mandou!

Luna olhou ao redor e viu todas aquelas estrelinhas presas e apagadas. Então teve uma ideia.

— Dragão, você está com fome de luz, não é? E se eu te der algo muito melhor que a luz das estrelas?

— O que poderia ser melhor? — perguntou o dragão, curioso.

Luna sorriu e colocou a mão no peito:

— A luz que vem do coração. A luz do amor e da bondade. Ela é muito mais gostosa e nutritiva que a luz das estrelas, e nunca acaba.

O dragão riu novamente:

— Besteira! Luz de coração não existe!

— Existe sim — disse Luna. — E vou provar para você.

Luna fechou os olhos e pensou em tudo que amava: sua vovó, sua casinha, os animais que cuidava, as flores do jardim, e todas as estrelas que eram suas amigas. Seu coração se encheu de tanto amor que começou a brilhar como um sol pequenininho.

A luz que saía do coração de Luna era dourada, quente e cheia de carinho. Quando o dragão sentiu aquela luz, seus olhos se encheram de lágrimas.

— Que luz maravilhosa — disse ele, com a voz mais suave. — Há tanto tempo que não sentia algo tão gostoso… Faz tantos anos que ninguém me oferece amor ao invés de medo.

Luna se aproximou do dragão e colocou a mão em sua pata enorme:

— Você pode ter toda a luz do meu coração que quiser, mas precisa prometer que vai soltar todas as estrelas e nunca mais vai machucá-las.

O dragão, emocionado com aquela luz de amor, concordou na hora. Ele abriu todas as gaiolas e libertou as estrelas, que voltaram a brilhar intensamente, felizes por estarem livres.

— Obrigado, menina — disse o dragão. — Você me ensinou que existe uma fome muito maior que a fome de luz: a fome de amor. Agora posso me alimentar do carinho das pessoas, e elas nem vão perceber, porque quanto mais amor damos, mais amor temos.

Luna sorriu e se despediu do dragão, que agora tinha um sorriso gentil no rosto. Ela desceu pela corda de volta para sua casa, onde a vovó a esperava preocupada.

Naquela noite, quando Luna subiu no telhado, o céu estava mais lindo do que nunca. Milhares de estrelas brilhavam alegremente, e todas piscavam para ela como forma de agradecimento.

A vovó subiu no telhado também e, abraçando Luna, disse:

— Minha querida, você sempre soube que o maior tesouro que existe é um coração cheio de amor.

E assim, Luna continuou cuidando das estrelas todas as noites, mas agora elas estavam seguras e felizes. E quando as crianças da cidade olhavam para o céu, podiam ver as estrelas brilhando mais forte, porque sabiam que havia uma menina especial cuidando delas com muito amor.

Esta história para dormir nos ensina que o amor e a bondade são as forças mais poderosas que existem, capazes de transformar até mesmo o coração mais sombrio em algo luminoso e belo.

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