Uma princesa com expressão preocupada em cima de vários colchões e almofadas.
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A princesa e a ervilha

Em um reino longínquo, aninhado entre colinas verdejantes e lagos cristalinos, vivia um jovem príncipe de nobre coração e espírito aventureiro.

Criado em meio ao luxo e à pompa da realeza, o príncipe ansiava por encontrar uma donzela que fosse digna de seu amor. E que pudesse compartilhar de seus sonhos e aspirações. Ele sonhava com uma princesa de verdade, não apenas por seu título ou linhagem, mas por sua beleza interior, sua graça e sua sensibilidade.

Determinado a encontrar sua alma gêmea, o príncipe então embarcou em uma jornada épica ao redor do mundo. Ele visitou reinos distantes e conhecendo princesas de todas as partes. Ele cruzou oceanos tempestuosos, atravessou desertos escaldantes e enfrentou florestas escuras e misteriosas. Sempre em busca daquela que faria seu coração vibrar.

Em cada reino que visitava, o príncipe era recebido com honrarias e banquetes suntuosos. Ele dançava com princesas de beleza estonteante, conversava com damas de inteligência perspicaz e ouvia histórias de donzelas de virtudes impecáveis. No entanto, apesar de encontrar qualidades admiráveis em cada uma delas, nenhuma princesa conseguia despertar a chama do amor verdadeiro em seu coração.

Após meses de incansável busca, o príncipe retornou ao seu reino natal, desiludido e com o coração carregado de tristeza. Ele havia explorado todos os cantos do mundo e conhecido inúmeras princesas. Mas nenhuma delas havia se mostrado como a verdadeira princesa que ele tanto almejava.

Até que um dia…

Em uma noite fria e tempestuosa, o castelo real era açoitado por ventos uivantes e chuvas torrenciais. Relâmpagos rasgavam o céu escuro, e trovões retumbavam como o rugido de feras indomáveis. No auge da tempestade, um som inesperado ecoou pelos corredores do castelo: alguém batia insistentemente à porta principal.

Intrigado com a audácia do visitante que ousava desafiar a fúria da natureza, o velho rei e pai do príncipe, ordenou então que abrissem os portões. Qual não foi sua surpresa ao se deparar com uma jovem donzela, completamente encharcada e tremendo de frio.

Com uma voz trêmula e um olhar suplicante, a jovem se apresentou:

– Perdoem-me a intromissão, Vossas Majestades, mas fui surpreendida pela tempestade enquanto viajava de volta ao meu reino. Imploro por abrigo nesta noite inclemente. Estou exausta, faminta e sem forças para prosseguir.

O rei, compadecido pela situação da jovem, a convidou a entrar:

– Seja bem-vinda ao nosso castelo, donzela. Jamais negaríamos abrigo a alguém em necessidade, especialmente em uma noite como esta.

Enquanto a jovem era conduzida a um quarto para se aquecer e trocar de roupa, o rei comunicou a rainha sobre a inesperada visita. A rainha, curiosa e perspicaz, logo percebeu a oportunidade de desvendar o mistério que envolvia a identidade da jovem. Com um sorriso enigmático, ela elaborou um plano para descobrir se a visitante era realmente uma princesa de verdade.

Subindo discretamente ao quarto de hóspedes, a rainha ordenou que todos os lençóis e cobertores fossem retirados da cama. Em seguida, com suas próprias mãos, ela colocou uma ervilha minúscula sob o colchão.

Para garantir que o teste fosse infalível, a rainha ordenou que fossem empilhados mais vinte colchões e edredons sobre a ervilha, criando uma verdadeira montanha de maciez e conforto.

A rainha está colocando uma ervilha sobre o colchão.

Ao terminar os preparativos…

A rainha retornou ao salão principal e, com um sorriso acolhedor, convidou a jovem a se juntar a eles para o jantar. A jovem, grata pela hospitalidade, aceitou o convite e se sentou à mesa, demonstrando elegância e educação impecáveis.

Após o jantar, a rainha conduziu a jovem ao quarto de hóspedes, desejando-lhe uma boa noite de descanso. A jovem, exibindo um sorriso cansado, agradeceu a gentileza e se retirou para o quarto. Ao entrar, ela se deparou com a cama monumental, com seus vinte colchões e edredons empilhados, e não pôde conter um olhar de surpresa.

Apesar da estranheza da cama, a jovem, exaurida pela longa jornada e pela tempestade, se deitou e tentou descansar. No entanto, por mais que se esforçasse para encontrar uma posição confortável, algo lhe impedia de ter uma noite tranquila. Uma sensação incômoda e persistente a mantinha acordada, como se algo duro e pontiagudo estivesse incomodando seu corpo delicado.

A noite se estendeu longa e tortuosa para a jovem, que se revirava na cama sem conseguir pregar os olhos. A cada movimento, a ervilha sob os vinte colchões parecia se afundar mais em suas costas, causando-lhe dores e incômodos. O sono, tão desejado, se tornava cada vez mais distante.

Ao amanhecer…

A jovem, com olheiras profundas e um semblante abatido, desceu para o salão principal, onde o rei e a rainha já a aguardavam para o desjejum. Após as saudações matinais, a rainha, com um ar de curiosidade disfarçada, perguntou então à jovem como havia passado a noite.

– Confesso, Vossa Majestade, que tive uma noite terrível – respondeu a jovem com sinceridade – Não consegui dormir um minuto sequer. A cama era tão desconfortável que parecia haver algo duro e pontiagudo sob os colchões, me impedindo de descansar.

O rei, surpreso com a reclamação, exclamou:

– Impossível! Nossos colchões são feitos com as mais finas penas de ganso e são conhecidos por sua maciez e conforto. Nenhum hóspede jamais se queixou de nossas camas.

A rainha, com um sorriso triunfante, interrompeu o rei:

– Majestade, creio que temos a resposta para o mistério que envolve nossa convidada. Somente uma verdadeira princesa, com a pele delicada e sensível de uma flor, seria capaz de sentir o incômodo de uma ervilha minúscula sob vinte colchões.

O rei, compreendendo o plano engenhoso da rainha, ficou admirado com a perspicácia de sua esposa. A jovem, por sua vez, ficou surpresa ao descobrir que havia sido submetida a um teste de sensibilidade real.

Uma verdadeira princesa

Assim, com a identidade da princesa confirmada, o rei e a rainha a apresentaram ao príncipe, que aguardava ansiosamente o desfecho daquela noite. Ao ver a jovem, o príncipe ficou encantado com sua beleza e graça. Seu coração se encheu de alegria por finalmente ter encontrado a princesa de seus sonhos.

Após alguns dias de convívio, o príncipe e a princesa se apaixonaram perdidamente e decidiram então se casar em uma cerimônia majestosa. Celebrada com a pompa e a alegria que a ocasião merecia. O reino inteiro se alegrou com a união do jovem casal, e a princesa, com sua sensibilidade e bondade, conquistou o coração de todos.

E assim, a história da “Princesa e a Ervilha” se tornou um conto clássico, passado de geração em geração. Como um lembrete de que a verdadeira nobreza reside na sensibilidade e na pureza de coração. A ervilha, pequena e insignificante, tornou-se um símbolo da autenticidade da princesa, e sua história continua a encantar e inspirar pessoas de todas as idades.

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