Uma história para dormir sobre criatividade e perseverança.
Num tempo em que os animais ainda conversavam com as nuvens e o vento carregava segredos de um canto a outro do mundo, espalhou-se uma notícia que deixou toda a floresta em polvorosa: o Grande Espírito do Céu iria realizar uma Festa Celestial! Seria uma celebração como nenhuma outra, com banquetes de néctar lunar, danças sobre as nuvens fofas e músicas feitas com os acordes do arco-íris. Os convites, escritos com tinta de estrelas cadentes, foram enviados para todos os cantos. Porém, havia uma condição: apenas os animais que podiam voar estavam convidados.
A floresta inteira ficou dividida entre a euforia e a deceção. Os pássaros, é claro, ficaram eufóricos. O beija-flor, veloz como um raio, vibrou suas asas num zumbido de alegria. A águia, majestosa, planou alto, antecipando a vista espetacular. Até o morcego, da sua caverna escura, esfregou as mãos (ou as asas) de contentamento.
Mas do chão, olhares tristes seguiam a agitação dos sortudos. A tartaruga, sábia e de passos lentos, observava seus amigos alados com um aperto no coração. Ela adorava uma boa festa, mas seu casco pesado e suas patas curtas nunca a tirariam do chão. O elefante, com sua tromba poderosa, balançava a cabeça, resignado. A cobra, ágil e sinuosa, silvava de inveja. E o macaco, que balançava de galho em galho, mas não podia voar de verdade, coçava a cabeça, frustrado.
— Não é justo! — lamentou-se a tartaruga, cujo nome era Tereza. — Por que apenas os que têm asas podem ver as maravilhas do céu? Nós, da terra, também sabemos celebrar a vida.
Os pássaros, num misto de pena e superioridade, diziam:
— São as regras, querida. O céu é para os voadores. É a lei da natureza.
Tereza não desistiu. Enquanto os pássaros se preparavam, ensaiando suas melhores acrobacias aéreas para a festa, ela ficou sentada à beira do lago, refletindo. Sua mente, ao contrário de suas patas, era ágil e cheia de ideias. Ela não queria violar as regras, mas sim encontrar uma forma inteligente de contorná-las. Foi então que, observando os gansos selvagens se preparando para a migração, uma ideia brilhante iluminou seus olhos pequenos e determinados.
O plano audacioso
Tereza convocou uma reunião secreta com todos os animais não-voadores na clareira grande.
— Meus amigos — começou ela, com uma voz mais firme do que o habitual —, nós também vamos à festa.
Uma onda de ceticismo varreu o grupo.
— Como? — perguntou o elefante. — Vamos construir uma torre até as nuvens?
— Iremos de catapulta? — sugeriu o macaco, entusiasmado.
— Nada disso — respondeu Tereza, com um sorriso esperto. — Iremos pelos céus, sem violar a regra. Iremos… de carona.
Ela explicou seu plano. Eles precisariam da ajuda dos pássaros mais fortes e de bom coração. A tartaruga, conhecida por sua sabedoria, foi primeiro falar com a águia, a rainha dos céus.
— Senhora Águia — disse Tereza, curvando-se respeitosamente. — Vocês, pássaros, são os mais belos dançarinos do céu. Mas numa festa, não é preciso também uma orquestra? Nós, da terra, podemos ser a sua banda. O macaco pode tocar tambor com côcos ocos, a cobra pode fazer um som de chocalho, o elefante pode ser a tuba com sua tromba, e eu… bem, eu posso ser a maestrina!
A águia, inicialmente cética, considerou a proposta. Uma festa apenas com o silêncio do vento realmente não seria tão animada. A ideia era boa. Outros animais terrestres foram falar com outros pássaros, oferecendo-se para carregar os enfeites, para ajudar a decorar os ninhos de nuvem, ou simplesmente apelando para a amizade de longa data.
A compaixão e a lógica da proposta tocaram o coração de muitos pássaros. Os gansos selvagens, em particular, conhecidos por seu espírito cooperativo, aceitaram ajudar. O plano era engenhoso: cada animal terrestre que desejasse ir seria “transportado” por um ou mais pássaros. Para a tartaruga, foi desenhado um esquema especial: quatro gansos fortes segurariam, cada um, uma ponta de um galho resistente. Tereza morderia o centro do galho com toda a força de sua mandíbula, e assim, eles a levariam voando.
No dia da festa, foi um espetáculo inesquecível ver aquele desfile aéreo incomum. Pássaros carregando pequenos roedores em suas costas, a cobra enrolada cuidadosamente no pescoço de uma cegonha, e no centro de tudo, a tartaruga Tereza, pendurada bravamente no galho, seus olhos arregalados de emoção e um pouco de medo, enquanto se elevava da terra pela primeira vez.
A celebração nas nuvens
Ao chegarem, a Festa no Céu era tudo o que haviam imaginado e mais. As nuvens eram macias como algodão-doce, e a lua cheia iluminava tudo com uma luz prateada. Os animais terrestres cumpriram sua promessa. O macaco começou uma batida ritmada, o elefante emitiu sons graves e profundos, a cobra sibilou no ritmo e os outros animais cantaram e dançaram como nunca. A festa, que teria sido elegante, tornou-se incrivelmente animada e alegre.
Os pássaros perceberam que haviam subestimado seus amigos da terra. A festa era muito melhor com todos juntos! A águia, dançando um passo solene, aproximou-se de Tereza.
— Você tinha razão, Tartaruga — disse ela. — A verdadeira celebração está na união de todos os talentos. O céu ganhou uma nova música hoje, a música da cooperação.
Tereza, ainda com o coração batendo forte da viagem, sorriu.
— Obrigada, Senhora Águia. Obrigada por nos darem uma chance. Às vezes, não é sobre ter asas, mas sobre ter ideias que nos fazem voar.
A festa continuou até o amanhecer, quando as primeiras cores do sol começaram a pintar o horizonte. Na hora de voltar, não houve mais hesitação. Os pássaros se ofereceram para levar seus novos amigos de volta para casa, com ainda mais cuidado e alegria.
Ao descerem, a floresta nunca mais foi a mesma. Os animais haviam aprendido uma lição valiosa. A partir daquele dia, a distância entre o céu e a terra pareceu menor. Os pássaros contavam as histórias das constelações para os filhotes de tartaruga, o elefante protegia os ninhos mais baixos com sua sombra, e o macaco ajudava a buscar materiais para os novos lares nos galhos mais altos.
Tereza, a tartaruga, tornou-se uma lenda. Ela não era a mais rápida, nem a mais forte, mas era a mais sábia. Provou que com perseverança, criatividade e um pouco de ajuda dos amigos, é possível alcançar até mesmo o céu.
E assim, sempre que uma nuvem passa, carregando o eco de uma risada, os animais da floresta sabem que é um lembrete da maior festa que já houve, uma festa que ensinou a todos que os limites muitas vezes existem apenas na nossa mente, e que a amizade é a asada mais poderosa que existe.
Que esta história para dormir inspire nas crianças a criatividade para resolver problemas e a importância de trabalhar em equipe.








