Muito além dos mares, em um reino de nome tão doce que sussurramos ao contar, existia o mais belo palácio que a imaginação poderia conceber. Era feito de porcelana reluzente, com jardins tão vastos que se perdiam de vista, repletos de flores exóticas e árvores centenárias. No centro desse esplendor vivia o Imperador, um homem poderoso acostumado às coisas mais raras e luxuosas do mundo. Seu palácio era uma joia, seu jardim um paraíso, mas sua maior paixão, declarada a todos os ventos, era o canto dos pássaros.
Em um canto desses jardins encantados, à beira do mar azul-pavão, vivia um rouxinol. Ele não era grande ou vistoso; suas penas eram de um cinza simples, quase modesto. Mas quando abria o bico para cantar, algo mágico acontecia. Sua voz não era apenas um canto, era uma melodia que parecia vir diretamente da alma da floresta. Era tão doce e comovente que os pescadores, mesmo após longas noites de trabalho no mar, paravam seus afazeres para ouvi-lo.
— Ah, que voz celestial! — suspiravam, sentindo o cansaço se dissolver. — É o mais belo som do império.
As notícias sobre o rouxinol milagroso viajaram por todo o mundo em livros e relatos, até que, finalmente, chegaram aos ouvidos do próprio Imperador. Sentado em seu trono de ouro, ele franziu a testa, confuso e um tanto ofendido.
— Um rouxinol? No meu próprio jardim? — ele perguntou, voltando-se para seus cortesãos. — Como é possível que a criatura mais maravilhosa do meu reino viva aqui e eu nunca tenha sabido? Isso é uma imperdoável falta de educação! Tragam-me esse rouxinol. Esta noite, ele cantará para mim.
Uma grande agitação tomou conta da corte. Todos sabiam que desapontar o Imperador era um risco perigoso. Os cortesãos mais importantes saíram em uma procissão solene pelos jardins, mas nenhum deles sabia como era um rouxinol. Confundiram seu canto com o som de sapos, com o ruído de cascatas e até com o miado de um gato. Foi uma humilde copeira, uma jovem que trabalhava nas cozinhas do palácio, quem os guiou até o local certo.
— Senhores — disse ela, curvando-se com respeito —, eu conheço o rouxinol. Todas as noites, ao levar os restos para o composto, eu o ouço cantar. Se me permitirem, eu os levo até ele.
O canto que comoveu um coração imperial
Sob o luar prateado, a pequena comitiva seguiu a copeira até uma clareira onde o rouxinol pousava em um galho de salgueiro. Quando o viram, alguns cortesãos franziram o nariz.
— É só isso? — sussurrou um, desapontado. — É tão simples e comum! Sua majestade ficará desapontado.
Mas então, o rouxinol começou a cantar. E, naquele momento, toda a arrogância e preconceito se dissolveram. Sua voz encheu a noite, uma torrente de notas cristalinas que falavam de amor, de perda, de esperança e da beleza simples do orvalho na teia de aranha. Os corações mais endurecidos dos cortesãos se comoveram. Lágrimas silenciosas rolaram por faces enrugadas pela idade e pela ambição. Eles não precisaram de palavras; simplesmente se curvaram perante o pequeno pássaro e o convidaram para se apresentar perante o Imperador.
No grande salão do trono, diante de toda a corte vestida com suas melhores sedas e joias, o rouxinol foi colocado em um poleiro de ouro. O Imperador, cético, fez um sinal para que começasse. E o rouxinol cantou. Cantou com tanta doçura e verdade que os olhos do poderoso Imperador se encheram de lágrimas que ele nem mesmo tentou esconder. Era a primeira vez, em muito tempo, que algo genuíno tocava seu coração.
— É magnífico! — ele exclamou, sua voz embargada. — Fiquei profundamente comovido. De hoje em diante, você viverá no palácio, em uma gaiola de ouro, e cantará apenas para mim.
O rouxinol foi tratado com a maior honra. Tinha sua própria gaiola dourada, com uma coleira de veludo para que não fugisse, e doze criados para atendê-lo. Mas, apesar de toda a riqueza, o pássaro não era feliz. Ele sentia falta do ar livre, do vento nos galhos, da liberdade de voar por seus jardins. Suas canções, embora ainda lindas, perderam um pouco de sua magia selvagem.
Um dia, o Imperador recebeu um presente do Imperador do Japão: um rouxinol mecânico, cravejado de diamantes, rubis e safiras. Quando desseram a chave, o pássaro de engenharia cantou uma música perfeita, mas repetitiva. A corte ficou maravilhada.
— Diferente do pássaro de verdade, este nunca se cansará! — disseram os cortesãos, adorando a nova maravilha.
O rouxinol de verdade foi esquecido. Um dia, vendo a porta de sua gaiola aberta, ele voou silenciosamente de volta para a liberdade de seus bosques. O Imperador, ao descobrir, ficou furioso e baniu o rouxinol de seu reino para sempre. O pássaro mecânico se tornou a nova atração, cantando a mesma melodia incansavelmente, enquanto o verdadeiro canto da natureza era esquecido.
A música que salvou uma vida
Os anos se passaram. O Imperador envelheceu e adoeceu gravemente. Seus médicos o deram como perdido, e a corte, sempre tão solícita, já preparava a coroação do sucessor. Sozinho em seu leito de morte, em um quarto escuro e frio, o velho Imperador abriu os olhos e viu a Morte sentada em seu peito, usando sua coroa e segurando sua espada.
— Chegou a sua hora — sussurrou a Morte, com uma voz gelada.
Aterrorizado, o Imperador olhou para o pássaro mecânico, silencioso em seu poleiro. Ele tentou gritar, mas não tinha voz. Tentou mover-se, mas não tinha forças. Foi então que, da janela aberta, um som familiar preencheu o quarto. Era o canto do verdadeiro rouxinol. Ele soubera que seu antigo senhor estava morrendo e voara até ali para confortá-lo em seus últimos momentos.
O rouxinol pousou no parapeito da janela e começou a cantar. Sua música era tão cheia de amor e perdão que a Morte, encantada, começou a ouvir. Ela, que só conhecia o silêncio eterno, foi tocada pela beleza daquela canção viva.
— Continue, pequeno pássaro — disse a Morte, sua voz agora um sussurro menos aterrorizante. — Sua música é mais doce do que qualquer outra que já ouvi.
O rouxinol cantou sobre os bosques, sobre os cemitérios onde as roseiras florescem, sobre o vento que balança os ramos dos salgueiros. A Mose ouviu, extasiada, e uma profunda nostalgia tomou conta de seu ser.
— Em troca de sua canção — disse ela, finalmente —, eu devolverei a vida ao Imperador.
E, assim dizendo, ela se dissipou como fumaça no ar. A coroa e o cetro voltaram para as mãos do Imperador. Uma cor saudável voltou a seu rosto, e a força, a seu corpo. Ele se sentou no leito, olhando para o rouxinol com os olhos cheios de lágrimas de gratidão.
— Você voltou para mim — sussurrou o Imperador. — Você me salvou. Como posso recompensá-lo?
— Você já me recompensou — respondeu o rouxinol, com sua voz doce. — Eu vi as lágrimas em seus olhos na primeira vez que cantei para você. Um coração que sabe se comover é a maior recompensa para um artista. Eu nunca mais ficarei preso em uma gaiola, mas prometo que voltarei. Vou cantar para você todas as noites, da janela. Cantarei sobre os que são felizes e sobre os que sofrem. Cantarei sobre o bem e o mal que estão escondidos de seus olhos. Serei seu pequeno mensageiro da verdade.
E assim foi. O Imperador se recuperou e se tornou um governante muito mais sábio e compassivo. E todas as noites, o doce canto do rouxinol ecoava pelos jardins do palácio, entrando pela janela aberta do quarto real. Era uma melodia de perdão, de amizade e da beleza eterna das coisas verdadeiras, uma canção de ninar perfeita para um imperador que, finalmente, havia aprendido a ouvir com o coração.








