Rei Midas

O Rei Midas e o Toque de Ouro

Era uma vez, em um reino distante banhado pelo sol, um rei chamado Midas. Seu palácio era o mais luxuoso que se podia imaginar, com jardins imensos, fontes de mármore e salões repletos de tesouros cintilantes. Midas tinha tudo o que um monarca poderia desejar: poder, servos leais e uma linda filha, a princesa Aurora, cujo sorriso era mais radiante do que todas as suas joias juntas.

No entanto, o coração do rei era habitado por uma sombra: uma ambição desmedida pelo ouro. Ele passava dias e noites em seu tesouro, contando e recontando suas moedas, achando que a felicidade completa residia no brilho amarelo do metal precioso.

— Ah, se eu pudesse ter mais! — suspirava ele, observando um lingote. — Se tudo o que eu tocasse se transformasse em ouro, então, sim, eu seria o homem mais feliz do mundo!

Ele mal sabia que os deuses do Olimpo estavam ouvindo seus sussurros gananciosos. Certo dia, enquanto Midas caminhava por seus jardins, ele encontrou um ancião perdido, que na verdade era o poderoso deus Dionísio, disfarçado. Midas, em um raro momento de bondade genuína, tratou o estrangeiro com grande hospitalidade, oferecendo-lhe comida, vinho e um lugar para descansar. Impressionado com a generosidade do rei, ainda que manchada pela ambição, Dionísio decidiu recompensá-lo.

— Rei Midas — disse o deus, revelando sua verdadeira forma radiante —, você me acolheu com bondade. Por isso, concederei um desejo. Peça o que quiser.

Sem hesitar, com os olhos brilhando de cobiça, Midas exclamou:
— Quero que tudo o que eu tocar se transforme em ouro!

Dionísio ficou sério.
— Você tem certeza, mortal? Esse é um desejo perigoso. A felicidade verdadeira não se encontra nesse caminho.
— Mais certo do que nunca! — insistiu Midas, cego por sua ganância.
— Que seja, então — concedeu o deus, com um suspiro de preocupação. — A partir do amanhecer, você terá o Toque de Ouro.

A maldição dourada e a solidão

Na manhã seguinte, Midas acordou cheio de excitação. Ele estendeu a mão para o criado-mudo ao lado de sua cama e tocou a perna de madeira. Tum! Num instante, ela se transformou em ouro maciço, pesada e imóvel. Um sorriso de triunfo iluminou seu rosto.

— Funcionou! — gritou ele, saltando da cama.

Ele correu pelo palácio como uma criança, tocando em tudo: suas cortinas de veludo se tornaram cortinas de ouro, pesadas e rígidas; os jarros de mármore se transformaram em jarros de ouro; até as pétalas de rosa no jardim, ao serem colhidas por seus dedos, tornaram-se frágeis e frias esculturas douradas. O palácio rapidamente se transformou em um mausoléu reluzente, mas silencioso e sem vida. Midas, eufórico, ordenou um grande banquete para celebrar seu novo poder. No entanto, quando se sentou à mesa, a realidade de sua maldição começou a se revelar.

Ele pegou uma suculenta uva, mas assim que seus dedos a tocaram, ela se tornou uma bola de ouro sólido, impossível de comer. Ele tentou levar um pedaço de pão quente à boca, e ele se transformou em um pesado lingote. A taça de vinho, ao ser levantada, tornou-se metal derretido que se solidificou instantaneamente. A fome começou a roncar em seu estômago, e o pânico começou a crescer em seu coração. Ele era o homem mais rico do mundo, mas não podia comer nem beber.

Foi então que o golpe mais cruel aconteceu. Sua amada filha, a princesa Aurora, ouvindo o alvoroço, correu para o salão para cumprimentar o pai. Preocupada, ela o abraçou.

— Pai, o que há? Você está bem? — perguntou ela, com sua voz doce.

Antes que Midas pudesse gritar um aviso, seus braços já estavam ao redor dela. No mesmo instante, um silêncio horrível pairou no ar. O sorriso de Aurora congelou, sua pele rosada tornou-se um amarelo metálico e brilhante, seus olhos vivos se transformaram em pedras preciosas sem luz. Ela havia se transformado em uma estátua de ouro perfeita e imóvel. O abraço amoroso havia se tornado o ato final de destruição.

O perdão dos Deuses

O grito de agonia que saiu da boca do Rei Midas ecoou pelos corredores dourados e vazios do palácio. Ele caiu de joelhos, abraçando os pés frios e metálicos de sua filha, suas lágrimas escorrendo pelo rosto e caindo no chão como as únicas coisas que ainda não se transformavam em ouro.

— O que eu fiz?! — ele chorou, sua voz um uivo de desespero. — Eu troquei o que era mais precioso por algo sem vida! Eu destruí minha própria felicidade!

A ganância havia se dissipado, substituída por um remorso profundo e esmagador. Por dias, Midas vagou pelo palácio, um fantasma entre suas posses douradas, sem comer e sem dormir, apenas fitando a estátua de sua filha. Ele finalmente entendera a advertência de Dionísio. A verdadeira riqueza não estava no ouro, mas no amor, na família, na comida quente e no abraço de um ente querido.

Tomado pelo desespero, ele ergueu as mãos ao céu e suplicou:
— Ó, grande Dionísio! Eu fui um tolo! Um homem cego e ganancioso! Por favor, tirem de mim este dom terrível. Eu devolvo o Toque de Ouro! Devolva-me minha filha! Devolva-me a vida simples que eu desprezei!

Sua oração sincera e cheia de arrependimento chegou aos ouvidos do deus. Dionísio, compassivo, apareceu diante dele mais uma vez.
— Você aprendeu a lição, Rei Midas? — perguntou o deus. — A verdadeira riqueza nunca foi a que brilha, mas a que aquece o coração.
— Sim, eu aprendi! — suplicou Midas. — Eu daria todo o ouro do mundo por um único abraço verdadeiro de minha filha.

— Então o seu castigo chegou ao fim — declarou Dionísio. — Para reverter o toque, você deve ir até as margens do rio Pactolo, que corre nas montanhas além do seu reino. Lave suas mãos e seu corpo em suas águas, e depois leve a água até o palácio para borrifar sobre tudo o que foi transformado.

Midas não perdeu um segundo. Ele viajou dia e noite até o rio Pactolo. Ao mergulhar as mãos na água corrente, ele viu o brilho dourado se dissolver, deixando para trás sua pele normal. Ele encheu uma ânfora e correu de volta para o palácio. Sua primeira ação foi correr até a estátua de Aurora e borrifar a água sagrada sobre ela. Lentamente, o ouro foi dando lugar à pele macia, as pedras preciosas se transformaram novamente em olhos brilhantes, e a estátua rígida tornou-se sua filha, viva e respirando. Ela o abraçou, e pela primeira vez, Midas sentiu a verdadeira riqueza.

Ele então borrifou a água por todo o palácio, e tudo voltou ao normal: as cortinas eram de tecido, as rosas eram flores e a comida era comestível. O toque de ouro havia desaparecido. Diz a lenda que, a partir daquele dia, as areias do rio Pactolo passaram a conter pepitas de ouro, levadas pelo poder de purificação que lavou a ganância de Midas.

O rei governou seu reino por muitos anos, mas agora como um homem sábio e generoso. Ele doou grande parte de sua fortuna para os pobres e passou seus dias valorizando os momentos simples com sua filha. E quando o crepúsculo dourado do entardecer se estendia sobre o reino, Midas sabia que aquele era o único tipo de ouro que valia a pena admirar: aquele que ilumina, mas não aprisiona; aquele que aquece, mas não congela; aquele que, assim como o amor de uma família, é verdadeiramente precioso.

Que esta história para dormir nos lembre que as coisas mais valiosas da vida não podem ser compradas, mas devem ser vividas e amadas.

Para resumir…

5/5

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